O GANCHO DO DIA
Dormir bem pode ser um dos maiores desafios da vida moderna.
Agora imagine um medicamento capaz de restaurar o sono sem causar dependência, sonolência residual ou alterações cognitivas no dia seguinte.
Essa é a proposta do Seltorexant, o protagonista do novo ensaio clínico publicado no JAMA Psychiatry (2025), que mostrou resultados promissores no tratamento da insônia crônica.
O estudo, conduzido por uma equipe internacional, demonstra que o Seltorexant é eficaz, seguro e bem tolerado, marcando o início de uma nova geração de terapias que atuam diretamente sobre os mecanismos neurobiológicos do sono.
🔗 Fonte: JAMA Psychiatry – “Efficacy and Safety of Seltorexant in Insomnia Disorder: A Randomized Clinical Trial” (2025)

O MERGULHO SIMPLIFICADO
1. Contexto e objetivo do estudo
A insônia afeta até 30% dos adultos e está associada a maior risco de depressão, declínio cognitivo, doenças cardiovasculares e até mortalidade.
Apesar de sua prevalência, os tratamentos farmacológicos atuais apresentam limitações importantes, como risco de dependência, efeitos residuais e interferência na arquitetura natural do sono.
O estudo da equipe do JAMA Psychiatry teve como objetivo avaliar se o Seltorexant, um antagonista seletivo do receptor orexina-2, poderia oferecer melhor qualidade e continuidade do sono sem os efeitos colaterais comuns das medicações tradicionais.
Em outras palavras, o medicamento foi projetado para desligar o “interruptor da vigília” do cérebro de forma fisiológica e controlada.
2. Como o estudo foi conduzido
O ensaio clínico foi randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, envolvendo quase 600 adultos com diagnóstico de insônia primária persistente.
Os participantes foram divididos em grupos que receberam diferentes doses de Seltorexant ou placebo durante quatro semanas.
O desfecho principal foi a latência para início do sono e o tempo total de sono, medidos tanto por polissonografia quanto por registros digitais em casa.
Os pesquisadores também avaliaram a qualidade subjetiva do sono, a sonolência diurna e a ocorrência de eventos adversos.
3. Principais resultados
Os resultados foram animadores.
Os pacientes que receberam Seltorexant tiveram redução significativa do tempo para adormecer (em média 25 minutos mais rápido que o placebo) e aumento de até 60 minutos na duração total do sono.
Além disso, houve melhora consistente nos escores de qualidade do sono e redução dos despertares noturnos, tanto em registros objetivos quanto em autorrelatos.
Importante destacar que não foram observados sinais de dependência, tolerância ou efeito de rebote após a interrupção do uso.
Do ponto de vista de segurança, o Seltorexant foi bem tolerado, com os efeitos adversos mais comuns sendo leves, como cefaleia e fadiga.
Não houve aumento de quedas, confusão ou sonolência residual — problemas comuns em medicamentos hipnóticos tradicionais.
4. Como o Seltorexant funciona
O diferencial do Seltorexant está em seu mecanismo de ação inovador.
Enquanto a maioria dos remédios para insônia atua estimulando o sistema GABAérgico (como benzodiazepínicos e Z-drugs), o Seltorexant bloqueia seletivamente a atividade da orexina, um neuropeptídeo responsável por manter o estado de alerta.
De forma simples, ele silencia os sinais de “vigília” sem suprimir o ciclo natural do sono, permitindo que o cérebro entre em repouso de maneira fisiológica.
Essa abordagem se assemelha a “baixar o volume” da excitação neural em vez de “desligar o sistema” por completo.
Com isso, o paciente adormece de modo mais natural e acorda com sensação de descanso, sem ressaca medicamentosa.

IMPLICAÇÕES E CHAMADA
Os resultados desse ensaio indicam que o Seltorexant pode inaugurar uma nova geração de medicamentos para insônia, mais seguros e próximos da neurofisiologia natural do sono.
Se aprovado, ele poderá substituir terapias antigas que, apesar de eficazes, frequentemente comprometem a memória, a atenção e a cognição.
Além disso, a descoberta reforça o papel dos receptores de orexina como alvos terapêuticos em condições ligadas ao ciclo sono-vigília, incluindo ansiedade, depressão e distúrbios circadianos.
Isso significa que o impacto da molécula pode ir muito além da insônia, abrindo caminho para tratamentos integrados de saúde mental e neurofisiologia do sono.
Como leitor, vale refletir: se o sono é o principal reparador do cérebro, será que tratar a insônia é, na verdade, tratar o envelhecimento precoce e o esgotamento mental?
RESUMO FINAL
Em resumo, o estudo publicado no JAMA Psychiatry (2025) mostra que o Seltorexant é eficaz e seguro para o tratamento da insônia, oferecendo uma alternativa moderna aos hipnóticos tradicionais.
Com ação seletiva e fisiológica, ele promete restaurar o sono sem os riscos de dependência ou efeitos residuais, marcando um ponto de virada na medicina do sono.
Essa foi a nossa dose de ciência de hoje!
Você usaria um medicamento que “desliga o alerta” do cérebro sem sedá-lo?
Deixe seu comentário e acompanhe as próximas descobertas da nossa coluna de inovação médica.
Fonte:
“Efficacy and Safety of Seltorexant in Insomnia Disorder: A Randomized Clinical Trial”, JAMA Psychiatry, 2025.
🔗 Leia o artigo completo no JAMA Network




