O GANCHO DO DIA
Você toma melatonina “toda noite” achando que é só um hormônio inocente para dormir melhor? E se eu te contar que ela está sendo estudada para obesidade, diabetes, intestino, câncer, Alzheimer, esportes e até doenças respiratórias?
O artigo de hoje, “Melatonin supplementation: new insights into health and disease”, é uma revisão ampla, feita por um grupo brasileiro, que passa a limpo tudo o que sabemos recentemente sobre suplementação de melatonina em várias áreas da saúde: metabolismo, cérebro, intestino, performance física, psiquiatria, pediatria, gravidez e muito mais. PubMed+1
O motivo de virar destaque na coluna de hoje é simples: melatonina saiu do nicho do sono e virou “pílula multiuso” na cabeça de muita gente, mas a ciência mostra um cenário bem mais complexo, com promessas reais e sinais de alerta, principalmente para uso crônico e em altas doses.

O MERGULHO SIMPLIFICADO
1. O que a melatonina realmente faz no corpo?
- A melatonina é o hormônio do relógio biológico, produzida à noite, que conversa com receptores no cérebro para ajustar o ciclo sono–vigília. Pense nela como um “dimmer de luz interna”: não força o sono, mas abaixa a luz do sistema para o corpo entender que é hora de desacelerar.
- Além do relógio, a revisão lembra que a melatonina atua como antioxidante, modulando inflamação, metabolismo e até a função mitocondrial – por isso aparece em estudos de doenças neurodegenerativas, metabólicas e do envelhecimento. PubMed+1
- E aqui vem o primeiro ponto chave: só porque é “natural” e o corpo produz, não significa que qualquer dose, por qualquer tempo, em qualquer pessoa seja segura.
2. Onde ela parece ajudar (mais do que só dormir melhor)
O artigo compila dados de várias frentes: PubMed+1
- Sono e psiquiatria:
- Melatonina (especialmente de liberação prolongada) melhora latência e qualidade do sono em alguns grupos, como adultos mais velhos e crianças com TEA ou TDAH.
- Em quadros psiquiátricos, há estudos sugerindo melhora do sono, humor e ansiedade como efeito indireto da estabilização do ritmo circadiano, mas a evidência ainda é heterogênea. e-fsbh.org+1
- Melatonina (especialmente de liberação prolongada) melhora latência e qualidade do sono em alguns grupos, como adultos mais velhos e crianças com TEA ou TDAH.
- Metabolismo, obesidade e diabetes:
- Ensaios pequenos mostram efeitos moderados em glicemia, colesterol e triglicerídeos, muitas vezes ligados à redução de inflamação e estresse oxidativo, não a um “emagrecedor direto”. MDPI+1
- Ensaios pequenos mostram efeitos moderados em glicemia, colesterol e triglicerídeos, muitas vezes ligados à redução de inflamação e estresse oxidativo, não a um “emagrecedor direto”. MDPI+1
- Esportes e recuperação:
- A revisão destaca estudos em atletas: melatonina melhora marcadores de dano muscular, inflamação e estresse oxidativo; o impacto direto na performance ainda é incerto, mas o corpo parece “sofrer menos” após o esforço. MDPI
- A revisão destaca estudos em atletas: melatonina melhora marcadores de dano muscular, inflamação e estresse oxidativo; o impacto direto na performance ainda é incerto, mas o corpo parece “sofrer menos” após o esforço. MDPI
- Cérebro, envelhecimento e neurodegeneração:
- Dados experimentais e alguns estudos clínicos em Alzheimer sugerem melhora de sono e possíveis efeitos neuroprotetores (menos inflamação, menos dano oxidativo, melhor função mitocondrial). Ainda é promissor, não definitivo. SpringerLink+1
- Dados experimentais e alguns estudos clínicos em Alzheimer sugerem melhora de sono e possíveis efeitos neuroprotetores (menos inflamação, menos dano oxidativo, melhor função mitocondrial). Ainda é promissor, não definitivo. SpringerLink+1
- Intestino, câncer, pediatria, gravidez, respiratório:
- O artigo faz um apanhado de estudos mostrando efeitos sobre microbiota intestinal, potenciais usos adjuvantes em câncer e situações específicas em pediatria, gravidez e doenças respiratórias – quase sempre com ensaios pequenos, curtos e muito específicos. PubMed+1
Resumo honesto: melatonina é mais versátil do que a gente imaginava, mas a maior parte dessas indicações ainda está na fase de “promissor, mas precisa de mais dados”.
3. O lado B: doses altas, uso crônico e o coração na jogada
Aqui a revisão conversa com um alerta que começou a ganhar manchetes em 2025: estudos observacionais sugerindo que uso prolongado de melatonina (≥1 ano) em pessoas com insônia pode estar associado a maior risco de insuficiência cardíaca, hospitalização e morte, embora sem prova de causa direta. American Heart Association+1
O que isso tem a ver com o artigo?
- Os autores reforçam que os estudos de benefícios em várias doenças são, em geral, de curto prazo, enquanto o uso real no mundo virou praticamente crônico em muita gente. PubMed+1
- Ou seja: o risco real do uso prolongado ainda é uma caixa-preta – e, por segurança, não dá mais para tratar melatonina como “chá de camomila em comprimido”.
4. Grupos especiais: crianças, gestantes e pacientes complexos
A revisão é clara:
- Em crianças, especialmente com TEA, TDAH ou distúrbios neurológicos, há benefício documentado para sono, mas sempre em contexto médico estruturado, com dose, tempo e monitorização bem definidos.
- Em gravidez e doenças crônicas (cardiovasculares, respiratórias, neurodegenerativas), a mensagem é de cautela: a maioria dos estudos é pequena e de curto prazo; extrapolar para uso longo, em doses altas, é chute. PubMed+1
Pense assim: melatonina, nesses grupos, se comporta mais como um medicamento de manejo fino do que como suplemento “genérico” de farmácia.

IMPLICAÇÕES E CHAMADA
O que eu levo dessa revisão para a prática do dia a dia?
- Melatonina funciona, especialmente para sono em contextos bem definidos, e provavelmente tem um papel interessante em metabolismo, neuroproteção e inflamação.
- Mas 2025 está nos obrigando a enxergar que “natural” não é sinônimo de inofensivo, principalmente quando falamos de uso diário, por anos, em doses acima do fisiológico – ainda mais em populações vulneráveis.
- Como clínicos, precisamos parar de banalizar a prescrição de melatonina e começar a abordá-la como o que ela é: uma ferramenta potente de modulação do relógio biológico e da inflamação sistêmica, com benefícios e riscos que ainda estão sendo mapeados.
Minha sugestão prática, lendo esse artigo e o que vem saindo em paralelo, é simples:
priorizar higiene do sono e intervenções comportamentais, usar melatonina na menor dose eficaz, por tempo limitado, e pensar duas vezes antes de endossar o uso crônico “para sempre” — principalmente em pacientes com risco cardiovascular ou multimorbidades. e-fsbh.org+1
Essa foi a nossa dose de ciência de hoje! Amanhã eu volto com outra atualização direto da fronteira entre hormônios, cérebro e metabolismo.
E você, está usando melatonina toda noite? Já pensou em discutir dose e duração com seu médico ou rever a rotina de sono antes de seguir no automático?
Deixe sua opinião aqui nos comentários e vamos continuar essa conversa.
Fonte:
Melatonin supplementation: new insights into health and disease. PubMed / Springer Nature (2025).



