O GANCHO DO DIA
E se o tratamento da apneia do sono fosse possível não apenas com aparelhos respiratórios, mas com medicamentos capazes de atuar nas vias metabólicas e neuromusculares que causam o distúrbio?
Essa é a proposta revolucionária apresentada no artigo “Obstructive Sleep Apnea: An Evolving Therapeutic Landscape with an Emerging Role for Incretin-Based Therapies”, publicado na revista Advances in Therapy (SpringerLink, 2025).
Os autores defendem que as terapias baseadas em incretinas, como os agonistas de GLP-1 e GIP/GLP-1 duplos, podem representar uma nova abordagem farmacológica para tratar a apneia obstrutiva do sono (AOS), especialmente em pacientes com obesidade ou resistência insulínica.
🔗 Fonte: SpringerLink – Advances in Therapy (2025)

O MERGULHO SIMPLIFICADO
1. Contexto e por que o estudo é importante
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio caracterizado por colapsos repetidos das vias aéreas superiores durante o sono, levando à interrupção da respiração e queda de oxigênio.
Ela está fortemente associada à obesidade, inflamação sistêmica, hipertensão e diabetes tipo 2, e é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Tradicionalmente, o tratamento padrão envolve o uso de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), que mantém as vias respiratórias abertas mecanicamente.
Entretanto, a adesão ao CPAP é baixa, e ele não atua nas causas metabólicas subjacentes da doença.
É nesse contexto que as terapias com incretinas, originalmente desenvolvidas para o tratamento do diabetes e da obesidade, estão ganhando atenção como potenciais agentes modificadores da apneia.
2. Como as incretinas entram em cena
As incretinas são hormônios intestinais naturais, como o GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) e o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose), que regulam apetite, glicose e metabolismo energético.
Os agonistas dessas vias, como semaglutida, tirzepatida e outras moléculas mais recentes, têm mostrado reduções impressionantes de peso corporal, gordura visceral e inflamação.
Como a obesidade é um dos principais fatores de risco para a AOS, esses efeitos podem reduzir significativamente a gravidade da apneia, inclusive em pacientes não diabéticos.
Além da perda de peso, os autores discutem evidências emergentes de que o GLP-1 também modula centros respiratórios no tronco encefálico e melhora o tônus dos músculos das vias aéreas superiores, sugerindo um efeito neuromodulador direto sobre o sono.
3. Evidências clínicas e mecanismos propostos
Estudos clínicos recentes mostraram que pacientes obesos com apneia tratados com agonistas de GLP-1 apresentaram redução no índice de apneia-hipopneia (IAH), sendo a principal medida de gravidade da doença.
Em alguns casos, a melhora ocorreu mesmo antes da perda de peso significativa, indicando mecanismos adicionais ao emagrecimento.
Os autores descrevem três principais vias de ação das incretinas sobre a apneia do sono:
- Metabólica: redução da gordura cervical e visceral, melhorando a permeabilidade das vias aéreas.
- Neural: modulação do controle respiratório central e do ciclo sono-vigília.
- Inflamatória: redução de citocinas pró-inflamatórias, como IL-6 e TNF-α, que interferem na estabilidade respiratória e aumentam o risco cardiovascular.
Além disso, há interesse crescente em combinar terapias metabólicas com abordagens clássicas, como CPAP ou dispositivos orais, para atingir resultados mais sustentáveis e personalizados.
4. O que muda no panorama terapêutico
Até pouco tempo, o tratamento da apneia era quase exclusivamente mecânico e comportamental.
Agora, com o avanço das terapias metabólicas, abre-se uma nova frente que ataca as causas biológicas e hormonais da doença.
Isso significa que, em vez de apenas corrigir o sintoma — a obstrução durante o sono — os médicos poderão tratar o contexto fisiopatológico completo, incluindo obesidade, resistência insulínica e disfunção autonômica.
Os autores ressaltam que, se confirmados em ensaios de larga escala, esses achados podem transformar a AOS em uma condição farmacologicamente controlável, semelhante ao que ocorreu com o diabetes tipo 2.
IMPLICAÇÕES E CHAMADA
A incorporação das terapias com incretinas no manejo da apneia do sono representa uma das mudanças mais empolgantes na medicina respiratória e metabólica dos últimos anos.
Essa integração entre endocrinologia, neurologia e pneumologia reforça um novo conceito: tratar o metabolismo é também tratar o sono.
Além disso, o estudo simboliza uma transição mais ampla na medicina moderna — do tratamento sintomático para intervenções sistêmicas que restauram o equilíbrio fisiológico.
Com o avanço das pesquisas, é possível que medicamentos como a tirzepatida se tornem parte do arsenal terapêutico padrão para pacientes com apneia moderada ou grave, especialmente aqueles com obesidade.
Como leitor, vale refletir: será que, no futuro, o controle do sono passará mais pela farmacologia metabólica do que pelos aparelhos respiratórios?

RESUMO FINAL
Em resumo, o artigo da Advances in Therapy (SpringerLink, 2025) apresenta um novo horizonte para o tratamento da apneia do sono, destacando o potencial das terapias baseadas em incretinas como ferramentas seguras e eficazes para reduzir sintomas e causas da doença.
A combinação de efeitos metabólicos, anti-inflamatórios e neuromoduladores transforma a apneia de um distúrbio mecânico em uma doença tratável sob uma ótica sistêmica e integrativa.
Essa foi a nossa dose de ciência de hoje!
Você acredita que medicamentos originalmente criados para diabetes e obesidade poderão também curar distúrbios do sono?
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Fonte:
“Obstructive Sleep Apnea: An Evolving Therapeutic Landscape with an Emerging Role for Incretin-Based Therapies”, Advances in Therapy (SpringerLink), 2025.
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